quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Estudo mostra associação entre uso de agrotóxicos e doenças neurológicas


Investigação foi feita com trabalhadores rurais do Sul do país.

Os agrotóxicos estão presentes na vida diária de milhões de trabalhadores do campo. No entanto, seu uso indevido contribui para a degradação ambiental, além de ser frequente a ocorrência de intoxicações, constituindo um dos principais problemas de saúde pública no meio rural brasileiro. Este é o alerta que o faz o estudo “Avaliação do impacto da exposição a agrotóxicos sobre a saúde de população rural. Vale do Taquari (RS, Brasil)”, publicado em agosto de 2011 na revista Ciência & Saúde Coletiva.
O estudo analisou a possível associação entre contato com agrotóxicos e a prevalência de doenças crônicas na população rural do Vale do Taquari, importante zona agrícola do Rio Grande do Sul. A autoria é de Iraci Lucena da Silva Torres, professora do departamento de Farmacologia da UFRGS e colegas do Centro Universitário Univates e da Universidade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.
Segundo a pesquisa, o Brasil é o terceiro mercado e o oitavo maior consumidor de agrotóxicos por hectare do mundo, sendo herbicidas e inseticidas responsáveis por 60% dos produtos comercializados no país. “Três são as principais vias responsáveis pelo impacto direto da contaminação humana: a ocupacional, que se caracteriza pela contaminação dos trabalhadores que manipulam essas substâncias; a ambiental, que ocorre por meio de dispersão/distribuição dos agrotóxicos ao longo dos diversos componentes do meio ambiente; e a alimentar que se dá pela contaminação relacionada à ingestão de produtos contaminados por agrotóxicos”, explicam os autores no artigo.
Os pesquisadores entrevistaram 298 pessoas. Destas, 68,4% informaram utilizar agrotóxicos. Os resultados mostram uma associação entre o contato com agrotóxicos e o relato de doenças neurológicas e também síndromes dolorosas.
“Indivíduos com contato com agrotóxicos apresentaram 2,5 vezes mais chances de relatar doenças neurológicas e 2 vezes mais chances de relatarem síndromes dolorosas do que os sem contato. Agrotóxicos de vários grupos, como organofosforados, carbamatos, organoclorados, piretroides e outros, se associam a efeitos neurológicos agudos com exposições a altas doses”, explicam os autores.
Eles também contam que podem haver sequelas tanto sensitivas quanto motoras, além de deficiências cognitivas transitórias ou permanentes. E destacam a possível inter-relação entre a exposição crônica a agrotóxicos e o desenvolvimento de doenças degenerativas do sistema nervoso central.
“Em estudo realizado em Nova Friburgo (RJ), verificaram respostas alteradas ao exame neurológico periférico do sistema motor e sensitivo em uma amostra de 102 pequenos agricultores, de ambos os sexos, sugerindo neuropatia tóxica, com provável degeneração axonal”, dizem na pesquisa.
O estudo realizado na região Sul do país também observou associação significativa entre o contato com agrotóxicos e o relato de doenças orais. Quanto a estas últimas, nenhum dos indivíduos sem contato relatou a sua presença, enquanto 3,7% dos com contato apresentavam-nas.
Segundo a pesquisa, a exposição ocupacional a pesticidas tem sido relacionada a outros efeitos prejudiciais à saúde, incluindo doenças que afetam pele, olhos e trato respiratório, podendo levar à morte. “Intoxicações por agrotóxicos são frequentes entre os agricultores, determinando, por vezes, a proibição médica do trabalho na lavoura e a orientação para outro tipo de atividade profissional”, alertam os autores.
O estudo ainda mostrou correlação entre exposição a agrotóxicos e artrite, o que, segundo os autores, reforça achados anteriores. “Os resultados aqui obtidos corroboram os de pesquisas anteriores e demonstram que é fundamental incentivar o conhecimento pormenorizado dos efeitos agudos e crônicos e que se estimulem de forma prioritária as restrições ao uso de agrotóxicos pelos riscos que oferecem. Deve-se considerar também que muitos dos efeitos dos pesticidas permanecem no organismo por longo período mesmo após a suspensão da exposição ao agente. Esse efeito é decorrente da meia-vida longa, da existência de metabólitos ativos e de sua alta lipossolubilidade que leva a depósito em tecido adiposo.
Outro dado que a pesquisa traz é a associação entre relato de doenças na família e exposição a agrotóxicos. Observou-se que 70,1% dos indivíduos com contato relataram doenças na família, enquanto essa frequência foi de 55,3% entre os sem contato.
“Tais resultados confirmam que, em pequenas comunidades agrícolas, como é o caso da presente amostra, frequentemente a agricultura é uma atividade familiar, todos participam de alguma forma do processo de plantio, da adubagem, do combate às pragas e da colheita, tornando-os suscetíveis aos malefícios da exposição crônica a agrotóxicos”, consideram os pesquisadores.
Para ver o artigo na íntegra, acesse.
Agência Notisa

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