quinta-feira, 12 de julho de 2012

FIDEDIGNO E INDEPENDENTE


O Pianista no Bordel,   de autoria do jornalista espanhol Juan Luis Cebrián, além de leitura cativante proporciona alguns momentos de reflexões a respeito do comportamento ético daqueles que se propõem a exercer o papel de jornalista.  Decano do jornalismo espanhol moderno, Cebrián de forma sintética e esclarecedora leva o leitor a refletir e a entender melhor a importância da imprensa desde seus primórdios aos dias atuais.
A sua tese é a de que mais do que nunca o jornalista deve ir além do simples registro dos fatos, pois “a notícia só terá validade se cumprir os princípios de veracidade, verificação, independência, compromisso público e lealdade para com o leitor”. 
A relação da imprensa com a democracia e seu papel de fiadora da liberdade de expressão e a encarniçada luta do jornalista contra o poder político, também é tratada de forma didática e apaixonante. Para  Cebrián, o jornalista moderno tem “que vencer um novo tipo de censura que não tem origem em pressões externas, mas na própria sociedade midiática, cujos interesses econômicos nem sempre coincidem com a apuração da verdade e com a livre circulação da informação”. 
Destaca que “o jornalismo de hoje, incluídas as transformações propiciadas pela internet, continua a ter alguns princípios básicos que não somente o identificam como profissão, mas também constituem um compromisso daqueles que o exercem. Afastar-se deles equivale a desertar da própria condição de jornalista”. Eis  os pontos fundamentais:
1.    A primeira obrigação do jornalismo é a verdade.
2.    Sua principal lealdade é para com os cidadãos.
3.    Sua essência é a disciplina da verificação.
4.    Seus profissionais devem ser independentes dos fatos e das pessoas sobre as quais informam.
5.    Deve servir como um fiscalizador independente do poder.
6.    Deve oferecer-se como tribuna para as críticas públicas e para o compromisso.
7.    Deve se esforçar para fazer do que é importante algo de interessante e oportuno.
8.    Deve seguir as noticiais de forma ao mesmo exaustiva e proporcional. 
9.    Seus profissionais devem ter direito a trabalhar conforme lhes dita a consciência.
Deixa antever que estes nove mandamentos se resumem facilmente em dois: “o jornalismo deve ser fidedigno e independente”.
Esclarece que ser fidedigno “significa que os jornalistas devem contar os fatos tal como ocorreram ou, no mínimo, esforçar-se nesse sentido. Não devem manipular dados, nem destacá-los segundo suas conveniências; devem ser rigorosos na verificação, exaustivos nas provas, plurais nos pontos de vista, minuciosos nos matizes, e, sobretudo, devem saber reconhecer seus erros e seus equívocos e se dispor a pagar por eles”.
Quanto à independência “equivale a exercer o papel social que seu ofício pressupõe, a não administrar a verdade apurada segundo as conveniências ou pressões do poder, a não misturar as próprias opiniões ou interesses pessoais com os dos leitores, a não trocar sua condição primária de testemunha pela de juiz, a ser crítico, amante do debate, polêmico e brilhante sem que a paixão pelas palavras o afaste da paixão primordial pela verdade, usando as primeiras  para iluminar a última com luz melhor e mais forte”.
Chama a atenção para um tema bastante controverso e é cáustico quando diz que “os jornais e aqueles que se dedicam a fabricá-los mantêm relações tradicionalmente muito mal ajustada não só com o poder político, mas com o poder em geral, em todas as suas manifestações, e frequentemente são maltratados por aqueles que desconfiam da moral de seus procedimentos.
O pior é que alguns acreditam que “a imprensa é o quarto poder”, frase que fez história e que nos persegue como fantasma. Pior ainda, é que alguns  acreditam nela e se esforçam muito para lhe dar veracidade, tentando governar a partir das páginas dos jornais e exercendo todo tipo de pressões, manipulações e até chantagens sobre as diversas instâncias sociais, para que se comportem de acordo com as manias ou interesses dos que dirigem os jornais. 
Cebrián é categórico ao dizer que seria absurdo negar que a imprensa representa algum tipo de poder. Mas, há quem insista em dizer que “se trata efetivamente de um verdadeiro poder, com enorme capacidade de destruição: talvez não possa erigir governos, mas pode derrubá-los; talvez não possa consolidar famas, mas suas potencialidades de difamar e insultar são quase ilimitados”. 
Sem me permitir a entrar em outros detalhes bem argumentados por Cebrián, apenas sinto-me tentado a transcrever um trecho em que ele cita Kierkegaard, pai do existencialismo, quando costumava se queixar asperamente: “Se não fosse a imprensa, ousaria confiar em minhas próprias forças: mas é horrível que a cada semana ou a cada dia um único homem possa fazer com que, num instante, 40 ou 50 mil pessoas digam e pensem exatamente a mesma coisa”. 
Para fechar: “Se Cristo voltasse ao mundo, Ele não teria como adversários os Sumos sacerdotes,  mas os jornalistas”. 
Mas, existe um alento: trabalhar é pior!
 
Fonte: Chico Pinto

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