segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ombudsman analisa tamanho ideal de jornal impresso na era da internet                   
 
Suzana Singer, ombudsman da ‘Folha de São Paulo’, analisou na edição dominical do jornal as mudanças efetuadas no principal concorrente, ‘O Estado de São Paulo’. Ao seu ver, isso traz à tona discussão sobre qual o tamanho ideal do impresso na era da internet.

Segue o texto:
QUERIDOS, ENCOLHI O JORNAL
O principal concorrente da Folha, que se orgulhava de ser "muito mais jornal", diminuiu. Desde segunda-feira passada, o "Estado de S. Paulo" está circulando com menos cadernos.
O "Metrópole", que trata dos assuntos de São Paulo, e o "Esporte" foram incorporados ao Primeiro Caderno durante boa parte da semana. Vários suplementos, como o literário, o infantil e o de informática, foram eliminados ou viraram seções ampliadas.
Aos domingos, o "Estadão" promete manter um conteúdo maior e fazer jus ao seu apelido. O enxugamento foi anunciado como "a maior menor mudança" que o jornal já teve, num slogan tão constrangedor quanto a campanha na TV.
Uma mulher fala em alta velocidade sobre tudo o que o jornal cobre durante a semana e garante que ficará agora mais fácil "entender" o que está acontecendo. Em seguida, o marido, em voz arrastada, diz que, no domingo, quando há tempo suficiente para "ler e reler", haverá notícias exclusivas e novas seções -a única citada é uma de fotos.
Nem Don Draper, o sexy gênio criativo de "Mad Men", teria se saído bem diante da missão de convencer o leitor de que ele está recebendo menos jornal, pelo mesmo preço, mas que isso é uma vantagem.
A diminuição do espaço editorial não é, porém, prerrogativa do "Estado". A Folha vem emagrecendo ao longo dos anos, só que de modo mais suave e preservando a divisão de cadernos. No anúncio da última grande reforma gráfica, em 2010, já se falava em "textos sintéticos e analíticos em pouco espaço".
O argumento para enxugar é que o tempo do leitor está cada vez mais curto, o que é facilmente verificável. O dia teima em continuar com 24 horas, mas agora, além de ler jornal, é preciso checar os aplicativos no celular, dar uma espiadinha nos sites de notícia e também nas redes sociais -só para ficar em algumas das invenções disseminadas na última década.
Como bem definiu um leitor da Folha recentemente, "há tanta informação disponível que dá até uma indigestão jornalística".
O que não se diz ao público é que o enxugamento, "para o seu próprio bem", visa cortar custos de papel, de mão de obra (jornalistas) e de tempo de gráfica.

As edições de sábado da Folha, nas quais se desdobram cadernos, mostram que a defesa do jornal compacto fica de lado sempre que é necessário atender as exigências do mercado publicitário. No último dia 20, havia "Poder 2", "Mundo 2", "Cotidiano 2" e "Mercado 2", num jornal com 40 anúncios de imóveis.
O dilema para os jornais hoje, e não só no Brasil, é encontrar um novo ponto de equilíbrio. Se as pessoas têm pouco tempo para ler, vamos escrever menos, mas, se o jornal ficar fino e superficial demais, para que comprá-lo, já que há informação de graça na rede?
Nos EUA, onde a perda de receita publicitária do impresso é dramática, a discussão sobre o futuro dos jornais se faz mais premente. Lá, as energias se concentram na tentativa de rentabilizar os sites, fazendo o possível para convencer os internautas de que vale a pena pagar por notícia de qualidade.
É o que o "New York Times", ao anunciar mais uma queda de lucro, chamou de "reposicionamento da empresa para a era digital".
Talvez o caminho do futuro seja mesmo no sentido de um jornal cada vez mais sintético, mas é um percurso bastante perigoso, a ser percorrido com toda a cautela.
Oferecer menos conteúdo precisa ter necessariamente como contrapartida uma melhoria significativa na qualidade do que é publicado. Poucos assuntos, mas apurados com precisão e profundidade e editados com inteligência. Se não for assim, estaremos apenas apressando o passo rumo à irrelevância.

Fonte: Da Redação

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